Este artigo é o terceiro da série Neuromitos na Aprendizagem. Se você perdeu o primeiro artigo sobre neuromitos, clique aqui. Se quiser ler o segundo, no qual eu discuto a ideia de separar as emoções da cognição, clique aqui. Agora, seja sincero e me responda o seguinte: Você está lendo este artigo ou lendo o artigo, checando as mensagens de WhatsApp, assistindo os reels que sua irmã mandou, olhando as notificações do Instagram e escutando sua música favorita no Spotify? Alguém muito sábio me disse:
Se você está fazendo várias coisas ao mesmo tempo, você não está fazendo nenhuma delas direito.
Pessoa Sábia
Isso é verdade e dá um aperto no peito quando paramos para pensar. Vivemos num mundo cheio de distrações e com uma demanda gigantesca de “dar conta” de tudo. Aí, faz sentido a ideia de multitarefa. De maneira objetiva, multitarefa é a habilidade de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Muita gente é inclusive elogiada ou admirada por conseguir fazer isso nessa era de excesso de informações e sobrecarga. Mas será que o nosso cérebro “dá conta”? Sinto informar, mas não dá não.
Origem
Isso remonta à metade dos anos 60 com a publicação do novo produto da IBM, o S/360. O termo “multitarefa” (multitask em inglês) fazia referência às incríveis capacidades de processamento que permitiam que esse computador mainframe fizesse coisas que nenhum outro computador havia sido capaz de fazer antes. Psicólogos na década de 60 adotaram o termo para se referir ao comportamento humano ao tentar fazer duas tarefas ao mesmo tempo, como contar e tentar ouvir alguém falar ao mesmo tempo. No entanto, foi na década de 90 que o termo se tornou uma tendência e foi realmente recomendado por muitas pessoas. Trabalhadores, donas de casa e estudantes foram de repente confrontados com essa demanda. Dirigir e ouvir as notícias no rádio, fazer o café da manhã enquanto ajuda crianças a fazer a tarefa, escrever um texto de geografia enquanto assiste a uma palestra de física ou assiste TV.
Os anos 2000 pioraram as coisas. As redes sociais, plataformas de vídeo e de podcasts começaram a tomar o tempo de mais e mais jovens e adultos mais velhos.
Corra no parque enquanto escuta um podcast de autoajuda!
Faça uma reunião enquanto responde um cliente no celular!
Tudo se resumia a economizar tempo, adquirir novas habilidades e conhecimentos e fazer mais de forma eficiente. Mas espera um pouco... Respire! Tudo isso não passa de um mito.
Por que é um mito?
Nossa capacidade cerebral de se concentrar e absorver informações é muito mais limitada do que gostaríamos de admitir. George Armitage Miller com o seu livro de 1956, The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information (traduzido para “O Número Mágico Sete, Mais ou Menos Dois: Algumas Limitações da Mente e Sua Relação com o Conhecimento”) e John Sweller, com a teoria da carga cognitiva, já haviam discutido que podemos sofrer de sobrecarga na memória quando somos expostos a muitas coisas ao mesmo tempo.
Vários estudos mostraram que fazer duas coisas ao mesmo tempo piora nosso desempenho porque o cérebro precisa alternar o foco da nossa atenção para concluir as duas tarefas. Na verdade, é melhor concluir uma tarefa primeiro e depois fazer a outra. Ah, André, mas eu consigo correr e escutar um podcast ou lavar a louça e assistir um TED Talk. Sim, quando uma das tarefas já está automatizada no cérebro, conseguimos fazer a outra ao mesmo tempo relativamente bem. Mas existe um porém. Se as duas tarefas exigirem os mesmos “canais” da memória de trabalho, você não vai conseguir fazer nenhuma das duas bem. Correr não compete com escutar, assim como lavar não compete tanto com olhar e escutar. Só que mandar mensagem de texto enquanto dirige exige o mesmo “canal” – ou seja, olhar. Não dá para olhar para duas coisas em posições diferentes ao mesmo tempo e isso pode causar um acidente.
Faça um teste. Tente cantar sua música favorita na cabeça enquanto conversa com um amigo. Ou tente escrever uma mensagem no WhatsApp sobre um assunto qualquer enquanto assiste um vídeo sobre atenção. Sugiro o vídeo do Teste de Atenção – Basquete ou A Double Dutch – Brain Games da National Geographic.
O que tudo isso significa na hora de estudar?
Diante das evidências científicas e da análise crítica do mito da multitarefa, é crucial repensar nossos hábitos cotidianos, especialmente quando se trata de estudos e aprendizagem. A cultura da multitarefa, muitas vezes glorificada como um sinal de produtividade, pode, na verdade, ser prejudicial ao nosso desempenho acadêmico e à nossa capacidade de absorver conhecimento de forma significativa.
A verdade nua e crua é que o maior problema potencial na hora de estudar é a tecnologia, principalmente as redes sociais. Eu confesso que estamos todos viciados. Agora mesmo eu dei uma olhada no meu perfil do Instagram. Isso pode ser bastante difícil de controlar dependendo do ambiente, mas se você estiver postando nas redes sociais enquanto você está lendo, ou enviando mensagens de texto para alguém durante uma atividade, seu cérebro está lutando para se concentrar e perdendo a luta feio.
Portanto, a próxima vez que nos sentarmos para estudar, vale a pena refletir sobre a importância de dedicar nossa atenção exclusivamente ao material em mãos. Ao fazer isso, não apenas aumentamos a qualidade de nossa aprendizagem, mas também cultivamos uma habilidade valiosa em um mundo cada vez mais permeado por distrações digitais.
Eu sei, eu sei. É difícil fazer isso. Acho que às vezes parece quase impossível não tentar fazer duas coisas ao mesmo tempo. Mas uma possível solução é usar a ideia de brain breaks. Deixe o celular longe da sua área de estudos ou trabalho e faça pausas curtas (você pode usar a técnica pomodoro) para checar suas redes sociais ou fazer qualquer outra coisa não relacionada com o que você está estudando para que sua mente possa relaxar um pouco. Mas não entre no buraco do coelho da Alice no País das Maravilhas!
Conclusão: tente o máximo possível garantir que o foco da sua atenção esteja em uma coisa apenas, ou seja, o material de estudo.
RESSALVA: Na hora de estudar para uma prova, intercalar os assuntos/tópicos/matérias normalmente funciona melhor! Ainda vou discutir isso e mais em outros posts.
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