Apesar de ser professor desde 2005, nunca pensei que essa seria minha carreira até 2016. Não queria oficializar a profissão mesmo tendo exercido o ofício desde criança. Dei aula de reforço pra coleguinhas no antigo ginásio e ajudei muito no ensino médio.
Quando percebi em 2016 que esse seria o meu caminho permanente, não sabia o quanto eu alcançaria nos próximos anos. Hoje, me sinto realizado e tenho ambição de conquistar muito mais. Quero ajudar a dar voz aos estudantes, desenvolver professores e criar novos olhares e conceitos.
Contudo, este dia dos professores não é exatamente feliz por causa de uma constatação muito dolorosa. No nosso país, professor é sinônimo de incompetente, vagabundo e doutrinador. Na escola, temos que ser criativos, divertidos e engajadores, mas não podemos ter voz.
Temos que cuidar de cada criança e adolescente, mas não temos condições de cuidar de nós mesmos. Somos explorados ao máximo e reduzidos a nada diante das famílias, clientes da escola. Lutamos contra tudo e todos para garantir o mínimo de educação dos outros.
E temos falhado. A luta é injusta. Estamos diante de uma geração que acha que educação serve somente "pra aprender ler e fazer conta" ou "pra garantir um bom emprego". A escola é vista como depósito de produção em massa, um lugar para deixar crianças enquanto a família trabalha.
Temos setores do governo que atacam, no discurso e nas ações, todas as esferas da educação sistematicamente. Temos educadores que acreditam que o que dizem é a melhor opção. Temos famílias que reproduzem o descaso propagado diante dos nossos olhos.
Porém, como escrito no epílogo do meu livro O Fator Coruja: Reformulando sua Filosofia de Ensino:
"A educação é um presente para a humanidade. É o resultado da criatividade humana e da busca por conhecimento, significado e propósito. Certamente falhou com muitos, mas ajudou muitos outros a se levantarem contra a adversidade."
"É o resultado de um contrato social, de um ideal. Certamente teve momentos sombrios em que o foco estava no controle e na alienação, mas a educação pode nos libertar."
"Nosso desafio é como manter esse legado vivo, atendendo às necessidades individuais dos estudantes e professores, além de encontrar pontos em comum. [...] voltando ao paradoxo que envolve singularidade e padronização, só posso dizer que conflito e tensão sempre existirão."
"Mas se pensarmos nas plantas, por exemplo, podemos ver como elas têm necessidades muito particulares e diferenciadas, porém, todas precisam de água, oxigênio, terra e luz solar para crescer."
A educação precisa de ar para respirar, de água para beber. A educação e o ensinar precisam de luz e de substrato. A educação precisa de filosofia, de criticidade, de contextualização histórica e de ética, não apenas de técnicas, não somente ler e fazer conta.
Se o valor máximo da organização de um país, aquele que devemos almejar sempre, é a democracia, dentro desse valor, temos que enxergar a valorização de uma educação holística e libertadora. Essas coisas são indissociáveis. Uma educação que impõe sim alicerces básicos e estruturantes para um futuro funcional e mais feliz. Mas não uma educação intolerante, opressora, alienadora e toxicamente positiva e superficial.
Ainda há esperança e eu gostaria muito de celebrar a nossa linda profissão com um ar mais leve nos próximos anos. Mais investimento, valorização da nossa categoria, capacitação, parceria com famílias e gestão e oportunidade de ascensão social. Muito dessa mudança depende de nós, mas muito também está fora de nossas mãos.
Contudo, preciso dizer que cada realização das milhares de pessoas que ensinei ao longo da carreira traz consigo um presente de valor incalculável. Sempre que vejo estudantes usando o inglês que aprenderam comigo em suas vidas profissionais, ou quando testemunho o impacto de colegas de profissão que foram meus estudantes nos cursos de extensão e pós ou fizeram algum curso meu (ou até estiveram presente em um workshop ou palestra), a alegria e a satisfação são enormes. Sei que o nosso efeito é multiplicador, exponencial.
A educação é a "arma" mais poderosa para mudar o mundo. A educação não transforma o mundo diretamente, transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Um professor, um livro e uma caneta bastam.
Lembrem-se disso hoje.
Meu presente de dia dos professores é este site com este blog e os recursos que ofereço para a comunidade docente. Espero que o meu trabalho seja fonte de inspiração hoje e sempre.
Quer saber mais sobre o que eu faço? Dá uma olhadinha abaixo:
André Hedlund teu artigo expressa os nossos anseios e a falta de reconhecimento em nossa profissão, nele você fala também da importância da profissão e do quanto levamos isso a sério. De verdade , seria maravilhoso se todos pudessem ter acesso ao teu modo de ver as coisas e como você consegue explicar essa realidade toda para as pessoas que tem a honra de conviver contigo e de participar dos teus cursos! Obrigada pela tua contribuição na minha vida como profissional! Que você continue impactando o mundo da educação com as tuas obras!!! Parabéns pelo artigo! Oportuno e esclarecedor!! Um abraço Hingrid