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Foto do escritorAndré Hedlund

Será que o Livro é o Método ou será que ficou Obsoleto?



Já ouviu a expressão abaixo?


"Ensine os alunos, não o currículo"


Antes de continuar com o texto, pergunte a si mesmo se concorda com essa frase e por quê. Se você discordar totalmente, talvez você seja do tipo que segue os livros de cabo a rabo. Se concordar em certa medida, pode ser do tipo que prepara - ou pelo menos encontra online - atividades extras para substituir alguns exercícios no livro didático.

E essa, já ouviu?


"Tem que comprar o livro porque ele é o método"


Se você já fez aulas de inglês ou trabalhou em alguma escola de idioma, essa frase deve soar familiar. Eu trabalhei em escolas de franquia, onde não seguir cada detalhe do livro enlouquecia os alunos, seus pais e os coordenadores. Também já trabalhei com grandes instituições de ensino de inglês com uma estrutura mais de filial, onde ir além das atividades do livro era esperado de nós professores.


Há instituições que trabalham com editoras renomada no mundo do ensino de inglês, como Oxford, Cambridge, National Geographic Learning, Pearson, MacMillan, Richmond, Helbling e outras. As franquias normalmente trabalham com seus próprios materiais feitos sob medida. E sabe de uma coisa? Esses materiais provavelmente não são tão ricos em recursos quanto os das grandes editoras que mencionei porque não têm o mesmo orçamento.


Tudo isso, falo por experiência própria, já que eu era responsável por encomendar quase 2.000 livros como coordenador de biblioteca em um grande centro de idiomas. Os materiais das escolas de franquia geralmente são mais caros e não têm a variedade de atividades que você pode encontrar nos livros das grandes editoras. No entanto, há exceções.


O que tudo isso nos diz sobre o material didático? Hoje, dia 27 de fevereiro, celebramos o Dia Nacional do Material Didático. Será que o livro como o conhecíamos perdeu seu valor? Vamos para outra reflexão, dessa vez com mais perguntas:

  • Quanto do seu conhecimento vem de materiais escritos hoje em dia?

  • Como você se informa no mundo atual?

  • Neste momento de ensino remoto mais frequente, qual é o papel dos livros físicos dos alunos?

  • Se você segue o livro sem deixar nenhuma atividade pra trás, quanto tempo sobra para explorar outros materiais?

  • Você acha que quando os autores desenvolvem seus livros, eles realmente querem que nós, professores, completemos tudo neles?

  • É realmente absurdo mudar a sequência de atividades em um livro para fazer com que seus alunos aprendam melhor?

  • Considerando quanto tempo leva para os livros serem publicados, quão atualizados eles estão?

  • Algum livro didático de inglês ou outra matéria, como geografia ou história, cobriu a pandemia COVID-19 enquanto estava acontecendo?

  • Quantos livros didáticos incluíram a pandemia e estão em circulação agora?

  • Com novas ferramentas como o ChatGPT, os professores ainda precisarão de livros se quiserem criar atividades com muito pouco tempo de preparação?

Agora tenho que explicar por que acredito que os livros ainda são vitais, mas estão sendo mal utilizados por muitos professores. Tudo começou em dezembro de 2016, quando a UniEvangélica me contratou para planejar seu curso de imersão em janeiro. Eles adotaram um ótimo livro - super famoso, por sinal - da Oxford chamado American English File. O principal pedido da diretora era que eu tornasse o curso menos "preso" ao livro e oferecesse uma variedade de atividades que usassem materiais autênticos ou criasse mais autenticidade nas próprias atividades do livro.


Depois das adaptações, qual foi o feedback do curso? Sucesso! Tanto a diretora quanto os alunos adoraram. Novamente, algumas semanas depois, quando viajei para Piauí para treinar alguns professores sobre como usar o livro World Link da Nat Geo Learning, percebi que o maior problema deles era tentar fazer todo o conteúdo "encaixar" em suas aulas. Planejei uma aula usando o livro e disse a eles que seguir o livro não era realmente essencial se eles cobrissem os principais objetivos de aprendizagem, já que temos tantos outros recursos disponíveis em todos os lugares. Recebi um excelente feedback após minha sessão de treinamento porque segui uma sequência que funcionou. Recebi comentários nas redes sociais e muitos professores me disseram que a aula foi agradável e fez todo sentido. O mais interessante é que eu realmente usei as atividades do livro e nem precisei introduzir recursos externos, só melhorei a sequência.


O exemplo acima aconteceu porque eu decidi mudar algumas coisas e você também pode. Realmente depende de você e de seus alunos decidirem como seguir o livro, o currículo e quais atividades manter, alterar ou descartar. Naturalmente, você terá a orientação de seus coordenadores acadêmicos para estabelecer o que e quanto você precisa cobrir. Se você é um professor particular, terá que decidir isso por conta própria ou se juntar a fóruns e grupos de professores para conseguir umas dicas da comunidade de ensino.


Mais recentemente, tive a oportunidade de escrever 6 unidades de um livro de inglês nível CEFR-B1 que incluiu muitas coisas interessantes, como lições baseadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metodologias ativas (com sala de aula invertida e aprendizagem baseada em projetos) e um design incrivelmente fácil de usar. Levei meses e muito trabalho para fazer tudo. Requer muito pensamento criativo e ajustes depois que recebemos feedback dos editores. Embora eu esteja orgulhoso do que entreguei, não consigo parar de pensar que teria mudado algumas coisas se tivesse a chance por causa de novas percepções ou simplesmente porque as tarefas que projetei podem não funcionar bem em contextos específicos.


Não devemos esquecer que estamos lidando com seres humanos na sala de aula e que há muitas variáveis para prever e controlar. É por isso que os livros são um excelente recurso, mas eles não se ensinam sozinhos. Os professores são o fator mais importante.


Minhas dicas para professores são as seguintes:


  1. Foque nos objetivos de aprendizagem em vez dos livros. Se você está ensinando o passado ou feudalismo e quer usar uma música ou um vídeo em vez do Ex 1A do livro na página 7, vá em frente.

  2. "Guarde" as atividades do livro para futuras aulas ou como exercícios de autoestudo. Lembre-se da ideia de prática distribuída ou repetição espaçada. É uma ótima ideia ter exercícios "sobrando" para começar a próxima aula e verificar se seus alunos realmente entenderam a lição. Afinal, a aprendizagem não ocorre no final da aula, mas ao longo de um período de tempo. Use post-its ou outros marcadores para localizar essas atividades.

  3. Pense em um livro didático mais como uma revista do que como um livro literário. A sequência de atividades é determinada pelo seu plano de aula. Você não precisa seguir a mesma sequência exata oferecida pelo autor, muito menos manter todas as atividades.

  4. Diga aos seus alunos o motivo por trás do que você está fazendo. Muitos alunos sentirão que desperdiçaram seu dinheiro se você não estiver "usando o livro" como eles acham que deveria. Eles precisam entender que o livro é um dos muitos recursos que podemos usar para ajudá-los a aprender uma língua. Além disso, ajude-os a ter mais independência. Eles podem fazer algumas das atividades que você pula ou modifica por conta própria. É por isso que o planejamento é essencial.

  5. Planeje a unidade e não apenas a aula. Você precisa de uma visão holística para saber exatamente como tudo se conecta e no que se concentrar. Lembre-se de que simplesmente seguir a sequência dos livros sem criticidade definitivamente não é a maneira mais certa de ensinar. O ensino requer muito planejamento de aula, independentemente dos materiais que você está usando.

  6. Se o livro oferece uma atividade de leitura, não há regra contra transformá-la em uma atividade oral e vice-versa. Torne as atividades mais comunicativas e envolventes de acordo com a etapa da sua aula e o perfil dos seus alunos.

Gostaria de mencionar também que quando trabalhei na Cultura Inglesa SP, eleita a melhor escola por três anos consecutivos na época, eu costumava ensinar com o Face2Face da Cambridge. Na época, os gestores aconselhavam que pulássemos a Lição D da unidade (e às vezes a Lição C também) para cobrir o currículo proposto. Se você está pensando: "Blasfêmia! Absurdo!", por favor, não pense assim. Foi uma decisão acadêmica tomada por coordenadores mais que competentes. Funcionava muito bem inclusive. Mas, para ser bastante honesto, eu nem sempre pulava essas lições. Planejava como usá-las de maneiras diferentes ou até mesmo passava como atividades de extensão.


Se você pensa que simplesmente seguir o livro ajudará você a alcançar os objetivos da sua aula, é muito provável que esteja errado. Se você pensa que a sequência dada pelo livro é a única que funciona, pode ser preciso pensar novamente. Estou afirmando que os livros estão obsoletos? De jeito nenhum. Como disse antes, eles são excelentes e essenciais na sala de aula. É dos livros que obtemos o Escopo e Sequência e seguimos um currículo específico. É dos livros que milhões de pessoas em todo o mundo têm acesso a materiais de leitura, escrita e áudios gravados no idioma que estão aprendendo. É dos livros que, quando nada mais funciona, você pode ficar tranquilo de que tem algo para ensinar.


Os livros nunca ficarão obsoletos (espero que não, pelo menos) e certamente não devem ser deixados de lado. Use-os como alicerce do seu curso e comece a construir materiais extras a partir daí. Afinal, os livros devem ser nossos amigos, não custar nossa criatividade e autenticidade na sala de aula. Para concluir, gostaria de compartilhar algo que John Hughes, um grande autor de livros de inglês, mencionou em um workshop que tive o prazer de participar em Londres. Ele disse que os livros são feitos para três tipos de professores. O primeiro tipo segue o livro e segue a sequência porque pode não saber como fazer outra coisa ou simplesmente não tem outros recursos. Milhões de professores ao redor do mundo nem sequer têm acesso à internet. O segundo tipo normalmente muda algumas coisas para se adequar ao seu plano de aula. Eles podem inverter a ordem das coisas ou substituir algumas atividades por coisas que possam funcionar melhor. O terceiro tipo de professor normalmente olha para o tópico (vocabulário, habilidades, estrutura gramatical) com o qual ele tem que trabalhar e descarta a maior parte dele porque já ensinou as lições muitas vezes antes ou tem fácil acesso a outros recursos que podem funcionar melhor. Nas palavras de John:


Eu tentei esclarecer que quando um autor escreve um livro didático, ele não deduz que um professor fará tudo o que há nas páginas, mas, sim, que os professores adaptarão o material para que ele funcione para eles e seus alunos. Isso pode significar deixar de fora certos exercícios, fazer perguntas extras sobre as fotos ou talvez inverter uma tarefa de leitura para lê-la antes da aula e discuti-la em classe.
John Hughes

Um pensamento final. Mantenha, altere e/ou descarte o que for necessário para que você possa melhorar os resultados de aprendizagem e não apenas cobrir o conteúdo, mas lembre-se neste Dia do Livro Didático: os livros didáticos nos dão uma base sólida para ensinarmos nossos alunos. Eles não são o método. São recursos valiosos que estruturam o que pretendemos ensinar. A nossa vida provavelmente seria muito mais difícil se não tivéssemos ao menos a opção de usá-los.

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Extremamente relevante este assunto! De certa forma me senti aliviada em perceber que estou lecionando e fazendo de maneira que seja adaptada para mim e para os meus alunos! Não existe a forma certa, a maneira mais correta. Tudo é adaptável, já que estamos lidando com seres humanos. Por ex, amo o conteúdo e a forma como os livros da NGL trazem interesse e curiosidade em seus temas em suas unidades, e adapto para minhas aulas. Porventura os alunos compram os livros porque os acham maravilhosos! Obrigada, André , pelo conteúdo e reflexão!


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